Folha de S. Paulo/Lucas Neves, 28/01/2009



São Paulo, quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

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Peça mostra obra de dramaturgo israelense à plateia paulistana

Hanoch Levin, que nunca teve textos montados no país, é autor de "Réquiem"

Lenise Pinheiro/Folha Imagem
Ensaio da montagem dirigida por Francisco Medeiros, em cartaz no Centro Cultural São Paulo

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

Fabricante de caixões num vilarejo em que "quase ninguém morre", o Velho bronqueia logo de partida: com "tudo se agarrando à vida feito praga", não há guerra ou epidemia que viabilize sua atividade.
No decorrer de "Réquiem", peça do israelense Hanoch Levin (1943-1999), nunca montado no Brasil, a morte o convidará repetidamente a rever as aspirações pequeno-burguesas. A primeira a partir será sua mulher, vencida pelo tifo e pela indiferença do companheiro.
Em seguida, o Velho fixará o olhar no recém-nascido que não resiste a queimaduras. E antes de se haver com seu próprio fim, ainda ouvirá o cocheiro balbuciar a perda do filho. A dramaturgia é inspirada em três contos de Tchecov: "O Violino de Rotschild", "No Fundo do Barranco" e "Angústia".
"De uma maneira ou de outra, a vida se encarrega de surpreender o ser humano com aventuras que o induzem a ampliar sua visão. Esse é o percurso que o personagem faz. Ele não percebe, mas é evidente que a intolerância e o preconceito, se não morrem, ao menos se enfraquecem dentro dele, para dar lugar à desconfiança de que o carinho é possível, o outro é um fato concreto", diz o diretor, Francisco Medeiros.
Ele frisa que não se trata de "uma peça de autoajuda, em que o personagem só vai em direção à luz". "Há retrocessos, paradoxos, como em todo ser humano. Esse caminho de revelação, amadurecimento, no fim das contas, leva à morte."

Paralelo com a guerra
Nesse percurso, afirma o diretor, a jovem de 17 anos que leva nos braços o filho morto, "torrado com água fervente em uma disputa de herança", servirá como uma figura desestabilizadora das convicções do Velho. "Difícil não pensar na guerra árabe-israelense ou na violência urbana", diz Medeiros.
Na mãe precoce que diz ter passado a vida a varrer, lavar e esperar (em vão) numa fila por um punhado de açúcar, o diretor também vê um espelho do conformismo contemporâneo.
"Quantas vezes o nosso ideal de felicidade é caber na realidade, e não fazer com que ela se flexibilize para conquistarmos um espaço?"

RÉQUIEM
Quando: ter., qua. e qui., às 21h; até 5/3
Onde: Centro Cultural São Paulo - sala Jardel Filho (r. Vergueiro, 1.000, tel. 3397-4002)
Quanto: R$ 10
Classificação: não indicada a menores de 14 anos



São Paulo, quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

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DRAMATURGO ESCREVEU MAIS DE 60 PEÇAS

Poeta, romancista, compositor e dramaturgo, Hanoch Levin iniciou sua carreira teatral com textos que satirizavam a política israelense. Logo colecionou desafetos. Na década de 70, várias de suas peças sofreram cortes ou tiveram as temporadas interrompidas por causa de seu conteúdo "desconfortável". "Réquiem" é seu penúltimo trabalho; Levin já estava hospitalizado quando dirigiu a primeira montagem, em Tel Aviv.


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ESTRÉIA DIA 27 DE JANEIRO, NO CENTRO CULTURAL SP. Terças, quartas e quintas, às 21hs, até 5 de março. Direção: Francisco Medeiros.

Réquiem estréia no Centro Cultural São Paulo


Réquiem - do premiado autor Hanoch Levin - estréia no Centro Cultural São Paulo em janeiro de 2009, com direção de Francisco Medeiros

Em 2009, dez anos após sua morte, o público brasileiro tem a oportunidade de assistir à primeira encenação de uma obra de Levin em solo nacional


As produtoras Dinah Feldman e Priscilla Herrerias, com apoio do Centro da Cultura Judaica, trazem ao público o espetáculo teatral Réquiem. O autor Hanoch Levin, referência obrigatória no panorama teatral e literário de Israel, é reconhecido mundialmente como um dos artistas mais inquietantes da literatura e da cena contemporâneas. Com um elenco de sete atores, sob direção de Francisco Medeiros, o espetáculo ocupará a Sala Jardel Filho do Centro Cultural São Paulo. Inspirada em três contos do mestre Anton Tchékhov, Réquiem é estruturada em 15 cenas curtas como um afresco de imagens alinhavadas por um eixo central: uma estrada e o percurso de um Velho por diferentes caminhos, encruzilhadas, esperas, partidas e chegadas. Fica em temporada de 27 de janeiro a 05 de março de 2009 em São Paulo.

Vencedora do 2ª Concurso Centro da Cultura Judaica de Montagem Teatral, a montagem do espetáculo Réquiem, idealizada por Priscilla Herrerias e Dinah Feldman, traz, aos palcos brasileiros, um texto cheio de vitalidade e relevante para o cenário contemporâneo, aclamado internacionalmente. Com direção do premiado encenador Francisco Medeiros, a montagem de Réquiem - que estréia dia 27 de janeiro de 2009, quinta-feira, às 21h, fica em temporada, na sala Jardel Filho, de terça a quinta até 05 de março.

O texto de Hanoch Levin chegou até as mãos da produção como uma grata e feliz surpresa, apresentado pelo senhor Ifat Tubi, do Teatro Cameri de Tel Aviv. Este primeiro contato foi como um despertar para um mundo novo – o universo dramatúrgico de Levin. De estrutura simples, o texto de Hanoch Levin fala sobre a morte e, assim, versa intensamente sobre a vida. Personagens aparentemente muito diferentes, de um tempo do “sempre”, acabam se unindo, se encontrando e desencontrando durante o percurso da peça.

Pelo texto de Hanoch Levin, abordamos questões fundamentais que fazem parte das indagações de todos os homens, de todos os tempos – o significado da morte e da vida, a solidão de cada um de nós e as relações pessoais que estabelecemos com os outros indivíduos a nossa volta. Desprovido de qualquer tipo de julgamento, Réquiem expõe estas questões para os espectadores de maneira simples, com personagens que tentam a todo o momento dizer o que realmente pensam, e vivem o presente da cena.

A montagem de Réquiem, através de uma encenação contemporânea, que respeita acima de tudo a imaginação e inteligência do espectador, pretende discutir as questões contidas na obra de uma maneira artística, sem impor respostas, mas apresentando situações dramáticas fundamentadas e originadas por estas perguntas.

Réquiem, de Hanoch Levin

Uma celebração da vida no encontro com a morte

“ Oh, este instante no teatro, quando as luzes da platéia já se apagaram e as luzes do palco ainda não se acenderam!

E a platéia, sentada no escuro, esperando no silêncio, todas as expectativas, os sonhos todos de milhares de pessoas com um único foco, um único ponto na escuridão diante deles.

Tenho a sensação de que tenho vivido este momento minha vida inteira, esperando no escuro.

Logo a cortina vai abrir, o palco será inundado com uma luz surpreendente e uma vida cheia de cores vai começar a fluir na minha frente. ?

É, logo logo uma vida multicolorida vai surgir, amanhecer, uma vida magnífica nunca antes vista por ninguém.”

...

Como naquele momento, há vinte anos, as luzes da platéia tinham se apagado e as luzes do palco ainda não estavam acesas, o momento em que, sentados esperávamos no escuro, todos os sonhos direcionados para um único foco na escuridão.

E então a velha cortina se abre, uma luz amarelada e mortiça invade o palco e três seres miseráveis, entre caixas de papelão e trapos perturbam nossas vidas como se houvesse alguma coisa que ainda não sabemos.”



Estes dois trechos de “Os Barões da Borracha”, peça de Hanoch Levin, são falas de uma mesma personagem, com um intervalo de 20 anos. E ilustram de maneira exemplar a maneira como o teatro de Hanoch Levin atinge a platéia. Magia e encantamento convivem de maneira insólita com o grotesco e o desencanto.

Hanoch Levin é daqueles artistas impossíveis de serem enquadrados numa escola ou num estilo. Ativista incansável, nunca economizou palavras ou imagens para suturar com bisturi afiado o corpo da civilização atual e, mais particularmente as contradições do seu povo.

Hanoch Levin – o autor




Nascido em 18 de dezembro de 1943, Hanoch Levin é filho de emigrantes poloneses sobreviventes do Holocausto. Com a morte prematura do pai, logo cedo teve que trabalhar e passou a juventude nas áreas pobres de Tel Aviv. Depois do serviço militar obrigatório, decide estudar Filosofia e Literatura Hebraica na Universidade de Tel Aviv e, na década de 60, escreve poemas, contos e uma peça radiofônica, além de numerosos artigos para jornais estudantis.

Seu talento de escritor já chamava a atenção dos editores, o que o animou a se aproximar de uma companhia teatral e escrever esquetes de humor negro apresentados sob a forma de cabaré. Depois de um período de peças cáusticas, sua escrita afiada e impiedosa se volta para temas míticos, obras envoltas numa aura de mistério e de lirismo. Como não podia deixar de ser num artista engajado explicitamente com seu mundo, a morte e a violência são personagens recorrentes, utilizados para denunciar a arbitrariedade, a intolerância e o autoritarismo.

Trabalhador incansável e um dos mais importantes escritores israelenses, Levin publicou peças, esquetes, romances, poesia e canções. Sua obra teatral constitui-se de 63 peças, das quais vinte ainda permanecem inéditas. Além de escritor foi também diretor de 22 de suas peças, função que desempenhava também com rigor e ousadia. Hanoch Levin morreu em 18 de agosto de 1999, vítima de um câncer depois de longa agonia. Ao contrário de muitos autores, Levin não deixou para trás gavetas cheias de material. Nos últimos anos de sua vida, foram publicados 17 volumes de seu trabalho: 11 volumes de peças teatrais, 3 de prosa, 2 de pequenas cenas e canções e um volume de poemas. Há ainda dois volumes de livros para crianças.

Réquiem é uma de suas últimas peças e foi dirigida pelo autor do leito do hospital. A encenação feita para o Teatro Cameri – uma das mais importantes companhias do teatro israelense - permanece até hoje no repertório, tendo recebido inúmeros prêmios e apresentada nos mais importantes festivais do mundo e em constantes excursões pelo Oriente e pelo Ocidente.

No início da carreira, Hanoch Levin não hesitou em criar obras em que satirizava a sociedade: seu ímpeto era tamanho que provocou celeuma e chegou a ser renegado pelo público. Uma de suas criações deste período, “a Rainha da Banheira” foi proibida depois de 18 sessões. Apesar das dificuldades, a crítica especializada jamais deixou de reconhecer seu talento.

Com o passar dos anos, sua visão arguta e seu talento se impuseram ao público. Levin é hoje considerado o Tchékhov, ou o Beckett , ou o Shakespeare do teatro de Israel.
Por que comparado a autores tão díspares?

Exatamente porque, como criador, Levin se aventura com grande destemor por diferentes estilos e, com grande sensibilidade, delineia contornos paradoxais do ser humano, como também mergulha na mais deslavada paródia sem esquecer-se de percorrer os labirintos metafísicos da alma humana. Opressores e oprimidos, fortes e fracos, visionários e incrédulos, seus personagens estão quase sempre em confronto aberto, usados como veículos para uma crítica áspera à burguesia.

A exuberância de suas obras contrasta com seu temperamento discreto, sem atração pelas luzes da mídia. Hanoch Levin concedeu pouquíssimas entrevistas em seus mais de 30 anos de trabalho ininterrupto, e dizia sempre que suas obras já falavam tudo que tinha a dizer. Esta timidez contrasta com a eloqüência de seus personagens que nunca poupam nada nem ninguém quando manifestam suas opiniões a respeito do homem e da vida.

Revisor obstinado de seus escritos, como encenador Levin era visto com freqüência nas últimas fileiras da platéia assistindo e tentando convencer os intérpretes a se manterem abertos a permanentes reformulações. Agarrado à vida com unhas e dentes, Levin ensaiava até a última sessão de uma temporada, assim como se manteve em atividade até quase o último suspiro.

Hanoch Levin é referência obrigatória no panorama teatral e literário de Israel, reconhecido mundialmente como um dos artistas mais inquietantes da literatura e da cena contemporâneas. No Brasil é quase completamente desconhecido. Em 2008, o público paulista teve a oportunidade de conhecer duas de suas obras em leituras dramáticas programadas pelo Centro da Cultura Judaica, com a curadoria de Silvana Garcia: Murder, que trata do conflito árabe-israelense, e, mais recentemente, o próprio Réquiem. Mesmo no formato de leituras dramáticas, pela reação do público foi possível avaliar o alto poder de afetação do teatro de Hanoch Levin. E agora, em 2009, dez anos após sua morte, o público brasileiro tem a oportunidade de assistir à primeira encenação de uma obra de Levin em solo nacional.

Réquiem – Um Tchékhov revisitado




Inspirada em três contos do mestre Anton Tchékhov, Réquiem é estruturada em 15 cenas curtas quase como um afresco de imagens alinhavadas por um eixo central: uma estrada e o percurso de um Velho por diferentes caminhos, encruzilhadas, esperas, partidas e chegadas.

Os personagens não têm nome, são chamados de Velha, Bêbados, Prostitutas, Cocheiro, Mãe, arquétipos explícitos que aparecem ao personagem central – o Velho - numa sucessão de encontros, desencontros, nascimentos, mortes, zonas de luz e de trevas, curvas, desvios de rota, retornos, enfim, uma alegoria da vida.

As imagens dos contos de Tchékhov cintilam pela peça numa convivência inusitada, surpreendente. O grande autor russo está lá, mas não de forma explícita, muito menos reverencial. Pastiche, intertextualidade, subversão de formas e estruturas consagradas dão origem a uma peça teatral construída a partir de fragmentos e de uma ousada não-linearidade.

O que parece mover todos os seres que habitam este universo é uma polaridade: o impulso de viver e o terror de morrer. Nada de novo ou revolucionário na temática de Hanoch Levin, nada de revolucionário também em sua escritura cênica. Mas, como ocorre freqüentemente com os grandes mestres, Réquiem é uma obra que fascina pela combinação incomum de vários elementos que constituem a cena dos nossos dias.

Beckett, Brecht, Artaud, Ibsen, Strindberg e, claro, o próprio Tchékhov são influências marcantes.

A sensação artaudiana de que “o céu está para cair sobre nossas cabeças” a qualquer momento está lá, presente, assim como uma galeria de seres atônitos em busca de algum sentido diante do absurdo da existência. Sem se esquecer dos personagens com um olho sempre atento, pronto para capturar a vida que parece escapar pelos dedos.

Aos espectadores resta uma sensação: a de um confronto aberto e direto com o mistério, com uma constelação de homens e mulheres imbuídos da certeza de que a vida será sempre um eterno embate entre ignorância e conhecimento.

Em meio a esta certeza, aparece freqüentemente o sonho que intensifica os fluídos do corpo e que faz com que os personagens não admitam abrir mão das esperanças, mesmo sabedores de que o horizonte é feito de catástrofes inevitáveis.

Talvez aí resida o fascínio da obra de Hanoch Levin: nessa capacidade de desconcertar artistas e público. De arrancar todos da cômoda constatação da miséria e arremessar todos no vácuo dos questionamentos, no silêncio do não-saber, no espanto de quem teima em querer viver, apesar de. Esta combinação “impossível” de rejeição e atração mantém o impacto que a obra de Levin provoca sobre as platéias.

Algumas manifestações da Crítica Internacional




“Uma majestosa tapeçaria poética com vida sobre o palco.” (The London Guardian).
“Por um teatro como esse você pode esperar anos, às vezes uma vida inteira.” (Polin, 2001).
“Uma dupla experiência especial: Réquiem é uma peça que une Beckett e Brecht – como se seus espíritos estivessem pelo hall do teatro.” (Germany, Hannoversche Allgemeine Zeitung, 2000).
“A morte aqui não é somente bonita e poética. Mas também uma grande vitória teatral.” (Ma’ariv).
“Vá e assista a essa peça. É uma das melhores escritas por Hanoch Levin.” (Ha’aretz).
“Com Réquiem, Hanoch Levin atinge seu auge na arte do teatro.” (Jerusalem Post).

Sinopse



Um Velho percorre uma estrada. Nela vai se encontrar com personagens, imagens e sensações que o fazem despertar para perguntas sobre o sentido da existência.
Comédia, poesia, magia e drama numa combinação inusitada, marca registrada de um dos mais importantes artistas israelenses da atualidade.

Sobre Tchékhov

Réquiem é baseada em três contos do autor russo Anton Tchékhov: O Violino de Rotschild, No Fundo Do Barranco e Angústia. Médico, contista e dramaturgo, Tchékhov (1860 – 1904) foi um dois maiores escritores russos de todos os tempos e na esfera teatral contribuiu imensa e revolucionariamente. Escreveu peças em um ato em forma de vaudevilles e farsas, e apenas cinco peças longas. Estas são consideradas obras-primas devido à escrita precisa e econômica de Tchékhov, à profundeza e riqueza psicológica das personagens e as relações estabelecidas entre elas.Escreveu inúmeros contos, publicados em jornais russos da época. Estes abordam situações cotidianas e aparentemente banais, sem deixar de pontuar sutilezas e detalhes ao retratar camponeses, funcionários públicos, bêbados, velhos e moços. Tchékhov queria que seus contos retratassem a vida como ela é. E foi isso que fez. Livre de sentimentalismos e possuidor de um humor extremamente particular, Tchékhov, observador, nos fornece em seus contos pequenos pedaços de vida, que tocam os leitores até os dias de hoje.

Sobre seu próprio trabalho, Tchékhov escreveu: “Tudo o que eu queria era dizer honestamente para as pessoas: ‘Dêem uma olhada em suas vidas e vejam o quão ruim elas são! ’ O mais importante é que as pessoas percebam isto, porque quando o fizerem, elas certamente criarão uma outra vida e melhor. Não viverei para vê-lo, mas sei que será diferente de nossa vida atual. Até esta nova vida aparecer, eu continuarei a dizer às pessoas: ‘Por favor, entenda que sua vida é ruim e escura!’”

Francisco Medeiros - Direção

Encenador com marcantes trabalhos realizados nas áreas de teatro e dança, distingue-se pelo acabamento e precisão que imprime à cena. Ao mesmo tempo em que conclui sua formação como diretor teatral na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, ECA/USP, Francisco Medeiros trabalhou com dança, nos grupos Stagium, Ruth Rachou e Maria Duchenes. Sua primeira direção é Fando e Lis, de Fernando Arrabal, em 1972. Após diversos trabalhos de pesquisa em dança e teatro dirige, em 1977, Coragem, Antes que Nos Fechem Aqui Dentro, de Miguel Oniga, no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro, MAM/RJ. O infantil Tronodocrono, de José Rubens Siqueira e Gabriela Rabelo, em 1983, projeta-o como um diretor sensível. No ano seguinte está em O Cárcere Secreto, também de José Rubens Siqueira, montado no Estúdio de Atores do Teatro Popular do Sesi, TPS, e em Simón, de Isaac Chocrón, apresentado no Teatro Brasileiro de Comédia, TBC.

Em 1984, encena um de seus maiores sucessos até hoje, Artaud, O Espírito do Teatro, colagem de textos do visionário homem de teatro francês organizada por José Rubens Siqueira, recebendo um Molière pela criação. Em 1986 cria, na Escola de Arte Dramática, EAD, Criança Enterrada, de Sam Shepard, solidificando seu prestígio. Em 1987 uma nova realização volta a projetá-lo: Depois do Expediente, texto sem palavras de Franz Xaver Kroetz, levando a atriz Ileana Kwasinski a receber o Molière do ano.

Junto a um grupo de artistas coordena, em 1990, o Projeto Maioridade de 68, no qual se distingue com a direção de Antares, de Alcides Nogueira, retratando os sonhos e expectativas daquela inquieta geração que marcou os anos 60. Homeless, de Noemi Marinho, é mais uma encenação bem-sucedida, criada em 1991.

Em 1995 assina duas realizações notáveis: uma encenação de A Gaivota, de Anton Tchekhov, realizada nos porões do Centro Cultural São Paulo, obtendo grande rendimento de um seleto grupo de atores e, com alunos da EAD, Marat-Sade, de Peter Weiss. Sherazade, de José Rubens Siqueira, devolve-o, em 1996, ao território das boas realizações infanto-juvenis; e, no ano seguinte, em outra de suas marcantes encenações, obtida a partir das entrevistas na obra de Nelson Rodrigues: Flor de Obsessão, com o grupo Pia Fraus Teatro, vencedora do Festival de Teatro Físico da Cultura Inglesa e, em Edimburgo, obtém o Angel Award do Fringe Festival, Prêmio Especial criado pelo Jornal The Herald para Melhor Produção Internacional no Festival de Edimburgo. No mesmo ano produz uma primeira versão para Avesso, de David Mamet; retomada em 2002 com o título de Uma Vida no Teatro, com Umberto e Beto Magnani. Suburbia, de Eric Bogosian, é outra incursão que chama atenção na temporada de teatro infanto-juvenil de 2001. Em 2002, dirige, para o TPS, Hamlet, de William Shakespeare.

Na área de dança, Francisco Medeiros está à frente de algumas expressivas criações, como Iribiri, dele e José Rubens Siqueira, coreografado por Sonia Motta, para a Cisne Negro Companhia de Dança, em 1978; e O Reino do Meio-Dia, de Antonio Nóbrega, criado em 1987.

Entre 1979 e 1981, Francisco Medeiros trabalha no Theatre for Latin America, de Nova York, onde dirige o festival de 1980. Ocasião em que realiza, entre outros, cursos e oficinas com destacados nomes da criação cênica, como Peter Brook; Meredith Monk, Lucinda Child e Trisha Brown; Bill Groves; e Lee Breuer e Joanne Akalaitis, integrantes do Mabou Mines, além do Bread And Puppet Theatre. Em 2003, dirige Pequeno Sonho em Vermelho de Fernando Bonassi que recebeu indicação ao PRÊMIO SHELL nas categorias Melhor Direção e Cenário e foi contemplado nas categorias Melhor Iluminação e Música e, em 2006, dirige A Noite Antes da Floresta de Bernard-Marie Koltès, indicado ao Prêmio SHELL nas categorias Melhor Ator e Melhor Iluminador. Além da direção de teatro e dança, distingue-se ainda como iluminador de inúmeras realizações e assina a encenação da ópera Eugene Oneguin, de Tchaikowski, realizada em 1995. Entre 1978 e 1980, torna-se crítico de teatro para crianças do Jornal da Tarde de São Paulo.

Segundo o dramaturgo José Rubens Siqueira, seu parceiro constante de trabalho, "a originalidade do teatro de Francisco Medeiros está num paradoxo: seus espetáculos partem de um achado sutil, de um viés de olhar capaz de atribuir uma fascinante estranheza até o mais banal dos assuntos. Essa abordagem fina, quase incorpórea, porém, é trabalhada corporalmente com os atores até atingir o paroxismo da sensação, física e emocional. Chico Medeiros trabalha a obra teatral no corpo e na alma dos intérpretes, evitando a todo custo desenhar o corpo do espetáculo no espaço cênico. Assim, a encenação resulta sempre do movimento mais íntimo e genuíno do intérprete. O traço mais marcante de seu trabalho é a elegância de sua contemporaneidade, na linha contrária da contemporaneidade explícita e vulgar do teatro formalista da virada do século XX".(Depoimento cedido a pesquisadora Johana Albuquerque. São Paulo, dez. 2002. Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural de Teatro). Dirigiu mais de noventa espetáculos entre peças teatrais, óperas e espetáculos de dança. E recebeu os mais importantes prêmios da crítica teatral brasileira.

Ficha Técnica

Texto: Hanoch Levin

Direção: Francisco Medeiros

Tradução: Priscilla Herrerias, com a colaboração de Dinah Feldman, Francisco Medeiros, Lilian Froiman e Pablo Ferreira


Intérpretes:

André Blumenschein
Chico Carvalho
Dinah Feldman
Fabricio Licursi
Felipe Schermann
Fernanda Viacava
Priscilla Herrerias

Assistência de direção: Pablo Ferreira

Preparação Corporal: Tarina Quelho

Cenografia: Mauro Martorelli

Figurinos: Inês Sacay

Trilha Sonora: Alex Buck

Iluminação: Taty Kanter

Programação Visual: Claudio Canarim

Fotos: Claudio Canarim e Pablo Ferreira

Produção e Realização: Dinah Feldman e Priscilla Herrerias

Para roteiro

RÉQUIEM – Estréia dia 27 de janeiro de 2009, terça-feira, às 21h, na Sala Jardel Filho do Centro Cultural São Paulo (324 lugares). Texto: Hanoch Levin. Tradução: Priscilla Herrerias. Direção: Francisco Medeiros. Elenco: André Blumenschein, Chico Carvalho, Dinah Feldman, Fabricio Licursi, Felipe Schermann, Fernanda Viacava e Priscilla Herrerias. Encenada pela primeira vez no Brasil, a peça do premiado autor israelense mostra um velho que percorre uma estrada, onde encontra com personagens, imagens e sensações que o fazem despertar para perguntas sobre o sentido da existência. Comédia, poesia, magia e drama numa combinação inusitada, marca registrada de um dos mais importantes artistas da atualidade. Temporada – Terças, quartas e quintas-feiras às 21h, até 05 de março. Duração – 60 minutos. Classificação etária: 14 anos. Ingressos a R$ 10,00 e R$ 5,00 (para estudantes, idosos e portadores de deficiência que apresentarem o bilhete único - passageiros especiais emitido pela SPTrans e o documento de identidade com foto). Sessão Popular no dia 03/02/2009. http://www.centrocultural.sp.gov.br/

Centro Cultural São Paulo. Rua Vergueiro, 1000 – Paraíso (próximo à estação Vergueiro do Metrô). Informações: (11) 3397-4002/ 3383-3402. A bilheteria abre uma hora antes.

Contato da Produção
Priscilla Herrerias
Tel (11) 8684-4729
espetaculorequiem@gmail.com

Jornalista responsável
Dinah Feldman - MTB - SP 30.299
tel (11) 3663-1237 / 9144-6957
dinahfeldman@gmail.com

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