Francisco Medeiros - Direção

Encenador com marcantes trabalhos realizados nas áreas de teatro e dança, distingue-se pelo acabamento e precisão que imprime à cena. Ao mesmo tempo em que conclui sua formação como diretor teatral na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, ECA/USP, Francisco Medeiros trabalhou com dança, nos grupos Stagium, Ruth Rachou e Maria Duchenes. Sua primeira direção é Fando e Lis, de Fernando Arrabal, em 1972. Após diversos trabalhos de pesquisa em dança e teatro dirige, em 1977, Coragem, Antes que Nos Fechem Aqui Dentro, de Miguel Oniga, no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro, MAM/RJ. O infantil Tronodocrono, de José Rubens Siqueira e Gabriela Rabelo, em 1983, projeta-o como um diretor sensível. No ano seguinte está em O Cárcere Secreto, também de José Rubens Siqueira, montado no Estúdio de Atores do Teatro Popular do Sesi, TPS, e em Simón, de Isaac Chocrón, apresentado no Teatro Brasileiro de Comédia, TBC.

Em 1984, encena um de seus maiores sucessos até hoje, Artaud, O Espírito do Teatro, colagem de textos do visionário homem de teatro francês organizada por José Rubens Siqueira, recebendo um Molière pela criação. Em 1986 cria, na Escola de Arte Dramática, EAD, Criança Enterrada, de Sam Shepard, solidificando seu prestígio. Em 1987 uma nova realização volta a projetá-lo: Depois do Expediente, texto sem palavras de Franz Xaver Kroetz, levando a atriz Ileana Kwasinski a receber o Molière do ano.

Junto a um grupo de artistas coordena, em 1990, o Projeto Maioridade de 68, no qual se distingue com a direção de Antares, de Alcides Nogueira, retratando os sonhos e expectativas daquela inquieta geração que marcou os anos 60. Homeless, de Noemi Marinho, é mais uma encenação bem-sucedida, criada em 1991.

Em 1995 assina duas realizações notáveis: uma encenação de A Gaivota, de Anton Tchekhov, realizada nos porões do Centro Cultural São Paulo, obtendo grande rendimento de um seleto grupo de atores e, com alunos da EAD, Marat-Sade, de Peter Weiss. Sherazade, de José Rubens Siqueira, devolve-o, em 1996, ao território das boas realizações infanto-juvenis; e, no ano seguinte, em outra de suas marcantes encenações, obtida a partir das entrevistas na obra de Nelson Rodrigues: Flor de Obsessão, com o grupo Pia Fraus Teatro, vencedora do Festival de Teatro Físico da Cultura Inglesa e, em Edimburgo, obtém o Angel Award do Fringe Festival, Prêmio Especial criado pelo Jornal The Herald para Melhor Produção Internacional no Festival de Edimburgo. No mesmo ano produz uma primeira versão para Avesso, de David Mamet; retomada em 2002 com o título de Uma Vida no Teatro, com Umberto e Beto Magnani. Suburbia, de Eric Bogosian, é outra incursão que chama atenção na temporada de teatro infanto-juvenil de 2001. Em 2002, dirige, para o TPS, Hamlet, de William Shakespeare.

Na área de dança, Francisco Medeiros está à frente de algumas expressivas criações, como Iribiri, dele e José Rubens Siqueira, coreografado por Sonia Motta, para a Cisne Negro Companhia de Dança, em 1978; e O Reino do Meio-Dia, de Antonio Nóbrega, criado em 1987.

Entre 1979 e 1981, Francisco Medeiros trabalha no Theatre for Latin America, de Nova York, onde dirige o festival de 1980. Ocasião em que realiza, entre outros, cursos e oficinas com destacados nomes da criação cênica, como Peter Brook; Meredith Monk, Lucinda Child e Trisha Brown; Bill Groves; e Lee Breuer e Joanne Akalaitis, integrantes do Mabou Mines, além do Bread And Puppet Theatre. Em 2003, dirige Pequeno Sonho em Vermelho de Fernando Bonassi que recebeu indicação ao PRÊMIO SHELL nas categorias Melhor Direção e Cenário e foi contemplado nas categorias Melhor Iluminação e Música e, em 2006, dirige A Noite Antes da Floresta de Bernard-Marie Koltès, indicado ao Prêmio SHELL nas categorias Melhor Ator e Melhor Iluminador. Além da direção de teatro e dança, distingue-se ainda como iluminador de inúmeras realizações e assina a encenação da ópera Eugene Oneguin, de Tchaikowski, realizada em 1995. Entre 1978 e 1980, torna-se crítico de teatro para crianças do Jornal da Tarde de São Paulo.

Segundo o dramaturgo José Rubens Siqueira, seu parceiro constante de trabalho, "a originalidade do teatro de Francisco Medeiros está num paradoxo: seus espetáculos partem de um achado sutil, de um viés de olhar capaz de atribuir uma fascinante estranheza até o mais banal dos assuntos. Essa abordagem fina, quase incorpórea, porém, é trabalhada corporalmente com os atores até atingir o paroxismo da sensação, física e emocional. Chico Medeiros trabalha a obra teatral no corpo e na alma dos intérpretes, evitando a todo custo desenhar o corpo do espetáculo no espaço cênico. Assim, a encenação resulta sempre do movimento mais íntimo e genuíno do intérprete. O traço mais marcante de seu trabalho é a elegância de sua contemporaneidade, na linha contrária da contemporaneidade explícita e vulgar do teatro formalista da virada do século XX".(Depoimento cedido a pesquisadora Johana Albuquerque. São Paulo, dez. 2002. Fonte: Enciclopédia Itaú Cultural de Teatro). Dirigiu mais de noventa espetáculos entre peças teatrais, óperas e espetáculos de dança. E recebeu os mais importantes prêmios da crítica teatral brasileira.