Réquiem, de Hanoch Levin

Uma celebração da vida no encontro com a morte

“ Oh, este instante no teatro, quando as luzes da platéia já se apagaram e as luzes do palco ainda não se acenderam!

E a platéia, sentada no escuro, esperando no silêncio, todas as expectativas, os sonhos todos de milhares de pessoas com um único foco, um único ponto na escuridão diante deles.

Tenho a sensação de que tenho vivido este momento minha vida inteira, esperando no escuro.

Logo a cortina vai abrir, o palco será inundado com uma luz surpreendente e uma vida cheia de cores vai começar a fluir na minha frente. ?

É, logo logo uma vida multicolorida vai surgir, amanhecer, uma vida magnífica nunca antes vista por ninguém.”

...

Como naquele momento, há vinte anos, as luzes da platéia tinham se apagado e as luzes do palco ainda não estavam acesas, o momento em que, sentados esperávamos no escuro, todos os sonhos direcionados para um único foco na escuridão.

E então a velha cortina se abre, uma luz amarelada e mortiça invade o palco e três seres miseráveis, entre caixas de papelão e trapos perturbam nossas vidas como se houvesse alguma coisa que ainda não sabemos.”



Estes dois trechos de “Os Barões da Borracha”, peça de Hanoch Levin, são falas de uma mesma personagem, com um intervalo de 20 anos. E ilustram de maneira exemplar a maneira como o teatro de Hanoch Levin atinge a platéia. Magia e encantamento convivem de maneira insólita com o grotesco e o desencanto.

Hanoch Levin é daqueles artistas impossíveis de serem enquadrados numa escola ou num estilo. Ativista incansável, nunca economizou palavras ou imagens para suturar com bisturi afiado o corpo da civilização atual e, mais particularmente as contradições do seu povo.